Aprender como se aprende também é tarefa do instrutor

Publicado no jornal O Globo em 27/04/97 - coluna ABRH
O emprego de profissionais experientes para atuar como instrutores é uma prática comum e recomendável nas empresas. Mas o que vemos, com freqüência, são treinamentos ministrados por profissionais com experiência comprovada na parte técnica, mas que desconhecem como ensinar.
Prejuízos ocorrem? Com certeza. Os que mais nos chamam a atenção:
Desperdício de conhecimento, de tempo e de material;
Desgaste da imagem do profissional que se propõe ministrar o curso;
Frustração e desgaste do Setor de Treinamento;
Frustração quanto aos resultados esperados, tanto para o instrutor quanto para o treinando - as necessidades que geraram o treinamento não são plenamente atendidas.
Não se improvisa com treinamento. As empresas que buscam produtividade e qualidade em seus produtos e serviços necessitam priorizar a preparação de seus instrutores para que eles possam, nos treinamentos, conseguir os resultados necessários.
O profissional que ensina precisa aprender como as pessoas aprendem, para que possa decidir o que ensinar e o como ensinar. Mas, antes de tomar essas decisões, é preciso ter em mente algumas considerações sobre o ensinar e o aprender.
O ensinar vai além "da boa vontade do profissional" ou "do seu grande conhecimento técnico." E o aprender exige do treinando muito mais do que "a vontade de..." ou "a necessidade de...". Tanto quem ensina quanto quem aprende tem responsabilidades no processo ensino-aprendizagem.
Sendo a aprendizagem um processo pessoal e interno, as pessoas aprendem, não apenas pelas explicações que recebem, mas, principalmente, pelas oportunidades que lhes são oferecidas para praticar o que lhes está sendo ensinado.
Esta, portanto, é a razão da importância das atividades realizadas durante a instrução: elas irão criar esta oportunidade para o treinando praticar, além de permitir ao instrutor verificar se o que foi explicado foi aprendido. Estas atividades são meios facilitadores da aprendizagem, e devem ser muito bem pensadas pelo instrutor ao planejar o treinamento que irá ministrar.
Ao instrutor cabe a responsabilidade não só de transmitir conhecimentos, como também de facilitar o processo de aprendizagem. O velho paradigma da Educação "eu ensinei, mas o aluno não aprendeu porque não quis" deve ser substituído com urgência em prol da aprendizagem.
Experiências mostram que "se o professor ensina, o aluno aprende" (logicamente, desde que atendidas as condições básicas para que a aprendizagem ocorra: o treinando, querer aprender; domínio dos pré-requisitos e planejamento criterioso dos eventos que serão desenvolvidos em situação de ensino).
Quando o aluno não aprende, não devemos trabalhar com acusações improdutivas: "culpa do aluno que...", "culpa do professor que...”.
Quando os resultados previstos não são atingidos, algo não ocorreu como deveria ou da parte do aluno ou do professor ou de ambos.
O importante é identificar o que deve ser replanejado para que os resultados se tornem satisfatórios para todos. "O que fazer para facilitar a aprendizagem do treinando?", aí está um dos grandes desafios para o instrutor.
Uma das causas que tem levado muitos treinamentos a resultados aquém do esperado é que o profissional escolhido para ministrar um treinamento, com freqüência, privilegia o conteúdo que deseja transmitir e não a aprendizagem.
Esta preocupação se reflete, por exemplo, quando as primeiras questões que o aflige são: "O que é que eu vou falar para o pessoal?", "o que é que eu vou escrever na apostila?".
A preocupação é tanta que geralmente, a apostila costuma ficar pronta antes mesmo do planejamento do curso ou aula. Estas preocupações são válidas e necessárias, mas não devem anteceder o planejamento.
A preocupação primordial do instrutor deve ser com os resultados que deseja obter com aquela situação de ensino. Só a partir daí, é que ele deve determinar as estratégias para proporcionar a aprendizagem e avaliar se a mesma está ocorrendo. A Empresa necessita de instrutores que estejam preocupados em proporcionar mudanças de desempenho.
Devemos agir como propõe o processo ensino-aprendizagem: o ensinar e o aprender devem ser trabalhados em conjunto, isto é, instrutor e treinando trabalhando para alcançar os resultados esperados.
Uma certeza nós temos: as empresas modernas e competitivas precisam, cada vez mais, utilizar seus profissionais com maior experiência para disseminar conhecimentos.
Ensinar, porém, não permite amadorismos. O profissional que vai atuar como instrutor necessita receber fundamentos de como ensinar, para embasar sua prática.
Um instrutor que saiba o que fazer, como fazer e porque fazer é necessidade urgente e imperativa, para que os resultados dos treinamentos sejam mais eficazes.



Prof. Helder JúniorSENAI-RO

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