CARTA CAPITAL - A bandalheira fardada

A bandalheira fardada
Mauricio Dias
22 de julho de 2011 às 10:47h
Apesar da faxina que promove em alguns organismos do governo, a presidenta Dilma Rousseff ainda está longe de ter se livrado das dores de cabeça provocadas por denúncias e indícios de corrupção no Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a árvore das mais frondosas bandalheiras no Ministério.

Na sexta-feira 15, Dilma demitiu José Henrique Sadok de Sá, mais uma cabeça coroada do Dnit. Além de diretor-geral, ele era o substituto imediato do já afastado Luiz Antonio Pagot. Sá foi afastado após denúncia de que a empresa da mulher dele tinha contratos da ordem de 18 milhões de reais com aquele departamento.

A tormenta de Dilma nessa área pode piorar. Sadok de Sá é o fio de uma meada que leva à sempre sensível área militar. Mais precisamente ao Instituto Militar de Engenharia (IME), subordinado ao Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército e considerado um centro de referência do ensino de engenharia nas Américas.

Um Inquérito Policial Militar (IPM), aberto em maio de 2010 na Justiça Militar, no Rio de Janeiro, e concluído agora, denuncia por crime de peculato seis militares do Exército e nove civis “por desvio de recursos públicos em licitações realizadas pelo Instituto Militar de Engenharia, nos anos 2004 e 2005” referentes a convênios celebrados com o Dnit. O prejuízo aos cofres públicos está calculado em 11 milhões de reais.

Um dos vínculos entre os militares (IME) e Sadok de Sá (Dnit) está no fato de Fábia Sadok de Sá, filha do diretor do Dnit, constar como contratada da empresa WMW ANKAR.

Havia oito empresas participantes do esquema. A maioria delas formada por sócios, amigos e parentes.

O nome da WMW ANKAR é de uma evidência gritante. Soma o W de Washington (major Washington Luiz de Paula, um dos denunciados); o M de Marcelo; W de William; o AN de Antonio (sogro de Washington); o KA de Khaterine (esposa de Washington) e o R de Roberto (coronel Paulo Roberto Dias Morales, outro oficial denunciado), registrada em nome de Antonio da Cruz Fonseca (sogro de Washington-), da cunhada dele Edilania Fonseca- Froufe (empregada do Dnit) e de Wilson- Agostinho (pai de William).

Entre setembro de 2004 e julho de 2005, apenas dois meses após ter sido criada, ela teria desviado dos cofres públicos quase 2 milhões de reais (tabela).

Nos depoimentos, militares e civis, irmanados, argumentam que agiram dentro da lei. A denúncia contra eles, no entanto, derruba facilmente a tese, principalmente pela forma com que conduziram a homologação das licitações, a fase de liquidação das despesas e, enfim, o pagamento. Um simples exemplo:

No convite 43/2004, cuja execução seria de até 30 dias, foi pago 90,4% em cinco horas. Tempo decorrido entre a emissão da Nota de Empenho e da Ordem Bancária. O restante em dez dias.

Tudo, como se vê, a tempo e a hora. Uma eficiência que não ocorre em qualquer outro órgão público que não tenha esquemas ilegais alternativos.

Há um fato extremamente relevante na trajetória do processo. Os autos foram enviados à Procuradoria da Justiça Militar “em razão da atribuição específica” desse órgão. Isso ocorre quando a denúncia envolve generais. E há três deles denunciados.

A granada que vai explodir nas mãos do ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Tabuleiro político I

A presidenta Dilma Rousseff partiu para o enfrentamento com o Partido da República (PR), que conta com 41 deputados e 7 senadores no Congresso.

Ela faz um movimento necessário para mudar as regras do jogo sujo, no qual se troca apoio político por benefícios ilegítimos na administração federal.

Essa decisão, corajosa e arriscada, em princípio enfraquece Dilma no Congresso, onde é necessária uma base governista sólida para governar.

FHC e Lula não tiveram tanta ousadia.

Tabuleiro político II

O saldo parece ser o seguinte: Dilma perde força no Congresso, mas ganha força na sociedade. Com isso, tira da oposição a bandeira da ética, perdida em 2005 com o episódio do chamado “mensalão”.

Com isso, os adversários ficam diante do dilema: apoiar a cruzada virtuosa de Dilma ou conquistar
a dissidência punida por ela?

Os tempos são outros, mas não custa lembrar que, em 1964, a oposição ao presidente João Goulart resgatou a bandeira da legalidade perdida quando apoiou a reação contra a posse dele em 1961.

Dilma retoma a bandeira da ética que estava nas mãos da oposição.

Sensibilidade política

O deputado Luciano de Castro, do PR de Roraima, reagiu, assim, às demissões do pessoal
do partido dele no Dnit:

“Atingiram o PR na cabeça e no coração”, reclamou Castro.

Mas o ilustre parlamentar sabe que a parte mais sensível no corpo de alguns políticos não é a cabeça ou o coração. É o bolso.

Eike no pedaço

A Refinaria de Manguinhos que, recentemente, levantou a recuperação judicial, está em negociações com o grupo de Eike Batista.

É negócio para mais de 100 milhões de dólares.

Nos últimos dois meses, as ações da empresa com direito a voto subiram quase 70%.

Onde fica a saída?

De olho no Brasil, o ex-ministro Dias Leite, professor emérito da UFRJ, está debruçado sobre as contradições da economia política com o objetivo de mostrar as dificuldades para se sair do subdesenvolvimento.

Em busca da clareza de linguagem e de conceitos, quer fazer um livro de, no máximo, cem páginas para alcançar um leitor além daquele que gosta de economia.

Dias Leite trabalha duro, mas se permite a pequenas provocações sobre o embate entre economistas
da estabilidade “de curto prazo” e os do desenvolvimento “de longo prazo”.

Ele ironiza: “Separa-os uma medida de tempo que ninguém sabe o que é”.

Eleição carioca I

A oposição carioca ao prefeito Eduardo Paes, do DEM ao PSOL, busca uma solução para disputar com chances a prefeitura do Rio, em 2012.

Os opositores pretendem lançar vários candidatos para tentar levar a disputa para o 2º turno. Paes, do PMDB, deve contar com o apoio do PT que, provavelmente, indicará o candidato a vice-prefeito.

Eleição carioca II

Embora qualquer pesquisa, distante da eleição, seja uma indicação capaz de provocar ilusão antecipada de vitória, o Ibope, em abril, apontava a vitória folgada de Paes (tabela) no primeiro turno.

Ele faz boa administração e recebe reflexo do apoio do governador Sérgio Cabral, bafejado pelo sucesso na luta contra o tráfico.

É preciso considerar que, neste momento, o total de eleitores representa somente 75% do total, porque 25% expressam a intenção de votos brancos e nulos (tabela).

EUA: Saga Kennedy

O canal por assinatura A&E exibe no Brasil, em dublagem, a minissérie The Kennedys. É fruto, mais uma vez, da obsessão dos conservadores americanos de destruir o mito dos Kennedy a partir da seleção do que há de pior na saga da família: sexo e trapaças políticas.

Ganhou forma um roteiro composto de fatos e boatos que não distingue o fim da verdade do começo da ficção e vice-versa.

Segundo especialistas, o contrato de transmissão estava armado com o History Channel, que teria rompido o compromisso ao avaliar os riscos de uma veiculação danosa à sisuda imagem do canal. Sobrou para a A&E, que tem nome na área de entretenimento e não no setor documental.

Há uma grande indignação, principalmente, entre os Kennedys e os intelectuais ligados ao clã Kennedy onde pontifica Ted Sorensen, do staff de JFK na Casa Branca. Eles criaram um website denunciando o ataque. O assunto ganha corpo na internet.

Há avaliações de que a minissérie resulta, também, da explosão de ódio dos direitistas com as mais recentes e desqualificantes reavaliações do governo Ronald Reagan.


Mauricio Dias

Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital. A versão completa de sua coluna é publicada semanalmente na revista. mauriciodias@cartacapital.com.br

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/a-bandalheira-fardada

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